sábado, 20 de agosto de 2011

3º ANO - ETANOL ESTÁ LONGE DE SER SUSTENTÁVEL

Condições degradantes de trabalho, expropriações, monopólios e devastação ambiental. Tudo isso derruba o mito da energia limpa do agrocombustível

 por Lúcia Cavalieri

A substituição dos derivados de petróleo pelos chamados agrocombustíveis — elaborados a partir da biomassa vegetal — pode parecer a solução para a crise dos fósseis no mundo. Mas do jeito que vem sendo executada vai causar uma série de problemas nos países pobres que apresentam as condições para a produção da biomassa. A produção do etanol brasileiro camufla atividades e relações que não são nada sustentáveis do ponto de vista social. Sem contar a queima indiscriminada da cana-de-açúcar, processo conhecido como devastador ambiental.
 
Há dezenas de pontos críticos na produção dos combustíveis ditos “ecologicamente e politicamente corretos”. Centenas de milhões de hectares de terras férteis têm sido e serão destinados à produção da biomassa, milhões de produtores rurais do campo são expulsos de suas terras de origem, a poluição da água e do meio, os problemas de saúde com a chuva de fuligem resultante da queimada da palha de cana, a diminuição da diversidade social e biológica por conta do cultivo da cana, a potencial contaminação dos ecossistemas vizinhos por organismos geneticamente modificados, as condições de trabalho degradante dos camponeses, proletários, migrantes e sub-proletariados que trabalham na produção da biomassa.

O agronegócio da cana ocupa o primeiro lugar no ranking de libertações de trabalhadores escravizados no país. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, a CPT, somente em 2008 cerca de 2,5 mil trabalhadores deixaram uma condição análoga à escravidão nas lavouras. O índice corresponde a 49% do total dos 5,2 mil trabalhadores libertos no país. O agrocombustível sustenta ainda outro índice alarmante: entre 2005 e 2006 foram 20 trabalhadores mortos, possivelmente por exaustão, durante o corte da cana. Hoje o Brasil é o maior produtor mundial de açúcar e o segundo maior exportador de etanol. Produzimos cerca de 30% do total de cana-de-açúcar mundial e 18% do total de açúcar. Mas os números sozinhos não demonstram as condições de produção e seus reflexos políticos, econômicos e ambientais.
Na produção brasileira de álcool, a lógica de expansão do capital casou com a lógica territorial do Estado numa união abençoada pelos latifundiários e pelo mercado internacional das commodities. O casamento, bem como a simpatia pela produção dos “bio” combustíveis, não são indispensáveis, mas com eles, o risco do setor diminui. Como alternativa à queima dos combustíveis fósseis, a produção dos agrocombustíveis mostra toda a sanha da produção do capital que expropria os camponeses, monopoliza o território, territorializa-se, impulsiona migrações e polui em vários lugares do mundo.

Enquanto o agronegócio discute uma agenda para transformar o etanol em commodity, o projeto político e econômico centrado na exportação de produtos produzidos na lógica do capital parece que continuará monopolizando território. Contrapondo-se às análises de muitos economistas e da mídia, os movimentos sociais, alguns setores da academia e diversos ambientalistas organizam-se para descortinar ao mundo a violência dessa produção. E questionam a continuidade de um projeto centrado na produção de combustível para abastecer o mercado de automóveis que se pauta no uso individual.

A atual demanda por força de trabalho do setor faz com que milhares de trabalhadores partam todos os anos para São Paulo, muitos deles vindos do Vale do Jequitinhonha (MG). Essa migração, especificamente para o setor sucroalcooleiro, tem provocado mudanças significativas no modo de vida de milhares de famílias que contam com as remessas provindas do trabalho executado pelos homens, que buscam sobreviver sem a presença do chefe de família, marido e pai. Mais um custo que devemos colocar na conta do mito da energia limpa.

DÊ SUA OPINIÃO, VOCÊ CONCORDA OU DISCORDA DA Dra LÚCIA CAVALIERI? JUSTIFIQUE.

Lúcia Cavalieri é doutora em Geografia pela USP
Bibliografia: Revista Galileu, nº 2401. Editora Globo. Julho de 2011.

9 comentários:

  1. Eu concordo com a Dra Lúcia Cavalieri, se formos colocar na balança, o etanol não é um combustível sustentável. Quando comparamos o nível de poluição produzido por um automóvel movido a um combustível fóssil como o diesel por exemplo, e um automóvel que utiliza o etanol, podemos perceber que ele polui menos, mas o grande problema se encontra na forma em que a cana de açúcar é manejada para a produção do etanol. Em seu manejo, desde o plantio até a colheita, envolve – se uma grande liberação de gases na atmosfera, que acontece desde quando começa a preparar o solo, com as maquinas movidas a diesel que liberam grandes quantidades de gases na atmosfera, até o antes do corte da cana, onde è feita a sua queima, depois que ela è queimada è feito o transporte dos cortadores de cana e da cana até as usinas por veículos que liberam uma grande quantidade de poluição na atmosfera. Para que o etanol se torne um combustível sustentável, deve ser revistas as formas que ele é produzido, ele deve ser produzido de uma forma mais sustentável, como já esta sedo feito nos dias atuais, o que pode – se comprovar com as colheitadeiras de cana, o que evita a sua queima, o transporte de dezenas de homens para os canaviais, com essa colheita de maquinas, os cortadores terão que fazer cursos, para que aprendam a trabalhar com elas, não fique sem emprego por causa das maquinas, dessa forma quase não terão trabalhadores escravizados no país, è os camponeses, não irão trabalhar mais em condições degradantes, e não terão problemas como a morte por exaustão causada pelo excesso de serviço, mesmo com a colheita mecanizada, ainda existem outros problemas, como o combustivel que elas utilizam que é o diesel, que libera grandes quantidades de gases na atmosfera, e ainda existem os problemas no processamento da cana nas usinas, que também causam poluição.
    thiago Cani

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  2. Qualquer atividade agrícola que emprega recursos naturais, como água e solo, e usa insumos e defensivos químicos, como fertilizantes e praguicidas, provoca algum impacto ambiental. Contudo, é possível reduzir quaisquer impactos, ao fazer planejamento, ocupação criteriosa do solo agrícola e emprego de técnicas de conservação para cada cultura e região.

    A produção de cana-de-açúcar provoca os seguintes impactos:

    redução da biodiversidade, causada pelo desmatamento e pela implantação de monocultura;
    contaminação das águas superficiais e subterrâneas e do solo, devido ao excesso de adubos químicos, corretivos minerais, herbicidas e defensivos agrícolas;
    compactação do solo, devido ao tráfego de máquinas pesadas durante o plantio, tratos culturais e colheita;
    assoreamento de corpos d’água, devido à erosão do solo em áreas de reforma;
    emissão de fuligem e gases de efeito estufa, na queima de palha, ao ar livre, durante o período de colheita;
    danos à flora e à fauna, causados por incêndios descontrolados;
    consumo intenso de óleo diesel nas etapas de plantio, colheita e transporte;
    concentração de terras, rendas e condições sub-humanas de trabalho do cortador de cana.
    Dentre todos os impactos ambientais gerados pela agroindústria da cana-de-açúcar, o mais conhecido e mais discutido ao longo dos anos tem sido a queima da palha, método usado para facilitar a colheita. Mesmo com a Lei Estadual 11.241, de 2002, que veta a queima de palha de cana, ao ar livre, as regiões urbanizadas das cidades paulistas de Piracicaba, Ribeirão Preto, Araraquara, Catanduva e Jaú convivem com as queimadas desde a intensificação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool), em 1975.

    Aliada aos riscos de prejuízos econômicos, danos à fauna e à flora, as queimadas são responsáveis pela emissão de gases justamente no período de estiagem, quando as condições de temperatura, umidade e velocidade dos ventos são desfavoráveis à dispersão dos poluentes. Assim, a má qualidade do ar pode prejudicar a saúde.


    O surgimento da legislação estadual que restringe as queimadas deve-se à:

    desligamentos freqüentes de linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica;
    efeitos estéticos indesejáveis causados pelas fuligens;
    acidentes ao longo das rodovias;
    incômodos ao bem-estar público;
    incêndios descontrolados em matas e fragmentos florestais;
    possibilidade de mecanização progressiva da colheita;
    pressões, cada vez maiores, da sociedade civil.
    A Lei 11.241, de 19/09/2002, regulamentada pelo Decreto Estadual 47.700, estabelece a proibição da queima em 100% dos canaviais mecanizáveis paulistas até o ano de 2021. A partir de 2006 até 2011, 30% da área deve ser colhida sem queima. Para as áreas não mecanizáveis, isto é, com declividade superior a 12% e/ou menor que 150 hectares, o término da queima ocorrerá em 2031. Nestas áreas, até 2011, pelo menos 10% devem ser colhidas sem queima. A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), com base na safra 2006/2007, estima-se que 42% da colheita de cana foram mecanizadas. Entretanto, não há garantia de que tenha sido colhida mecanicamente sem queima. guilherme quaresma

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  3. “O etanol brasileiro só será um combustível verdadeiramente sustentável quando atingirmos a segunda geração na sua produção”. A afirmação é do coordenador do Laboratório de Química Ambiental da Universidade de Campinas - Unicamp, Wilson de Figueiredo Jardim.

    Formado em Química e doutor em Ciências Ambientais pela Universidade de Liverpool, na Inglaterra, Jardim acredita que o Brasil aprendeu a melhorar a qualidade do álcool combustível, mas que ainda é preciso aprimorar a sua produção a partir de resíduos agroindustriais como o bagaço da cana e a palha de milho e de arroz, sem que haja competição com as áreas de plantio de alimentos, a chamada segunda geração dos biocombustíveis. “Atualmente o ciclo de vida do etanol não pode ser considerado limpo. Além dos fertilizantes químicos, utilizamos caminhões movidos a diesel para transportar a produção e temos problemas com a erosão do solo e o emprego de muita água no processo”. Segundo o especialista, para se conseguir apenas um litro de álcool são necessários 500 litros de água. Sem contar as multas que a indústria recebe todos os meses pela poluição que causa com a queima da palha da cana. “Não podemos esquecer todos esses dados no balanço geral”, explica.

    Para Jardim, entretanto, é na questão trabalhista que a indústria do álcool fica muito longe de ser sustentável, por conter a parte mais perversa da cadeia produtiva, que o pesquisador da Unicamp compara com a dos tempos dos senhores de engenho. “Desde a época do Brasil Colônia há um incentivo do governo à mão-de-obra barata com subsídios aos usineiros. Os salários pagos aos cortadores de cana vem caindo desde a década de 1970, assim como a expectativa de vida deles. É hora de cobrar tais injustiças sociais”. Além da vinda da segunda geração do etanol será preciso mecanizar a produção. “A mecanização vai diminuir significativamente as emissões de gases que acentuam o aquecimento global”.

    Em um nível mais abrangente, o pesquisador alerta que o ser humano precisa conter suas demandas básicas por energia, alimentação, vestuário e transporte. “Nosso modelo de desenvolvimento é suicida, baseado na extração e beneficiamento exacerbados de matérias-primas naturais. Nas últimas décadas a população mundial cresceu quatro vezes mais, a demanda por água subiu nove vezes e a nossa necessidade de energia aumentou em 16 vezes”, esclarece Jardim.

    Em contrapartida – ainda segundo o pesquisador – as reservas mundiais de petróleo devem esgotar-se em 45 anos, a de gás natural em 70 anos e a de carvão só dá para, no máximo, mais 170 anos. “Para conseguir um mínimo de desenvolvimento sustentável é preciso repensar, já, nossos hábitos fundamentados no desperdício e na conveniência para alcançar um patamar de igualdade ambiental, social e econômica”, diz. E exemplifica: “De que adianta o avanço da tecnologia em desenvolver e produzir veículos cada vez mais econômicos e menos poluentes, se ainda existem sociedades excessivamente consumistas que insistem em ter três carros em cada garagem?”.

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  4. Álcool (Etanol)
    Utilizado como combustível nos automóveis brasileiros há mais de 20 anos, o álcool é pouco poluente e sua fonte de energia (cana-de-açúcar) é renovável. Alguns países já estão adicionando o etanol à gasolina como forma de diminuir a emissão de poluentes e o efeito estufa. É uma medida importante para combater o processo de aquecimento global, que vem ocorrendo nas últimas décadas.
    A região do interior do estado de São Paulo concentra, atualmente, a maior quantidade de canaviais.

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  5. Estou de acordo com a Dra Lúcia Cavalieri, quando diz respeito do etanol mais sustentável.
    O ETANOL, álcool oriundo da cana-de-açúcar, tem sido aclamado por muitos como uma alternativa de fonte energética limpa e sustentável. O álcool é sim um combustível renovável, pensado como alternativa ao escasso petróleo, combustível fóssil com quantidades limitadas.Mas, dois sérios problemas - ambiental e social – deverão ser enfrentados antes que se possa dizer que o Etanol é fonte energética limpa e sustentável. A produção do álcool gera uma série de poluições, pois, em muitos lugares onde se cultiva a cana, ainda é adotada a queimada antes do corte, originando um grande lançamento de poluentes na atmosfera, prejudicando a saúde das pessoas que vivem na região e cidades próximas. Há estatísticas provando que o número de internações por problemas pulmonares e por hipertensão arterial aumenta muito durante o período da queima da cana-de-açúcar, que acontece entre abril e novembro, nas regiões produtoras. Danifica, também, o meio ambiente, pois muitos animais nativos são mortos pelo fogo e este ainda poderá atingir áreas naturais que ficam próximas às plantações. Além da poluição ambiental o plantio cana-de-açúcar provoca sérios problemas sociais, pois para o corte da cana é empregada mão de obra temporária (os conhecidos bóias-frias), sujeita a salários baixíssimos e desprovida de equipamentos adequados para o trabalho perigoso.


    Carol

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  6. Leonardo Simonetti Dutra25 de agosto de 2011 às 20:33

    Eu concordo com a Dra Lúcia.

    No meu ponto de vista apesar do etanol ser bem visto pela sociedade em questão de ser uma possivel fonte sustentável, ele apresenta alguns aspectos negativos.
    No caso ele não consegue beneficiar um lado sem prejudicar o outro, com isso ele polui o ambiente, pode causar problemas na saúde de pessoas, prejudica a produção rural, as condições de trabalho são péssimas dentre outros pontos negativos.

    Por causa desses aspectos e outros, concordo que o etanol esta longe de ser sustentável.

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  7. Concordo com a Drª Lúcia Cavalieri, além das vantagens, como quando crescer a cana reabsorve grande parte do CO2 emitido na queima do álcool,a Redução do consumo do petróleo em 200 mil barris por dia, Há grandes desvantagens, como a queima da cana-de-açucar, o uso de poluentes na produção, como fertilizantes e pesticidas e a Geração de subprodutos poluentes na produção, como o vinhoto, o que afeta o meio amiente. Trazendo futuramente grande consequencias, já que no presente se ver parte dessas consequencias.

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  8. O Brasil é um país muito grande e com um grande numero de riquezas naturais, penso que
    o etanol realmente pode ser uma alternativa sustentável, desde que as lideranças
    políticas se empenhem em realizar um serviço realmente bem feito para que não tenhamos
    problema como cargas de trabalho abusivas e principalmente para que sejamos sustentáveis,
    na condição atual o uso do etanol em minha opinião é banal, pois estamos usando fontes de
    energias renováveis porém degradando abusivamente o solo nacional. Para uma política de energias sustentáveis realmente efetiva precisamos de uma nova proposta mais organizada
    e principalmente mais sustentável. Portanto concordo com Drª Lúcia.

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  9. O etanol além de viável economicamente, é menos poluente do que os outros derivados do pretróleo, pode ser produzido com razoável preservação da biodiversidade e até, em alguma medida, provir da agricultura familiar – temos exemplos no Brasil. E a questão da segurança alimentar? Vejamos alguns números: os canaviais ocupam o equivalente a 1% da área das propriedades rurais, 2,3% das áreas de pastagem, 5% da área cultivada nacional e 0,5% da superfície total do País.

    Considerando a subutilização das áreas agrícolas, há ainda bastante espaço para crescer sem afetar a disponibilidade de alimento. E o desmatamento? Pelos mesmos números, vemos que o etanol pode aumentar muito apenas em áreas agrícolas subutilizadas, sem avançar sobre a mata.

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